Não terá festa em razão das recomendações de evitar aglomerações no combate ao coronavírus, mas o domingo (12) é de celebração na Colônia Nova Itália. Pioneira colônia de italianos no Brasil festeja os 107 anos de Bernardina Angeli Fagundes. Dona Dinha, é a idosa mais velha de São João Batista.
Nascida em 12 de abril de 1913, fruto da união matrimonial contraída aos 13 anos por Maria Augusta Pera com o imigrante italiano Agostino Fidelle Angeli, Bernardina Angeli Fagundes, a dona Dinha, ainda trabalha e irradia paz e alegria no “Berço da Imigração Italiana no Brasil”.
O pai de dona Dinha chegou ao Brasil com 19 anos, juntamente com o irmão Domênico Fidelle Angeli, o bisavô do agricultor e memorialista da Colônia Nova Itália, José Sardo, o Saulo.
Dona Dinha, a mais nova entre 10 irmãos, ficou órfã de pai aos oito anos. Sempre residiu na Colônia Nova Itália, em terras que pertenceram aos seus avós maternos, os imigrantes italianos Maria Gambetta e Giuseppe Pera.
Força de vontade e trabalho marcam a centenária história de vida de Bernardina. Mesmo com a idade avançada ela ainda não parou de trabalhar. Junto da filha Terezinha confecciona estopas, tecidos sobrepostos costurados e utilizados para limpeza. O trabalho exige bastante paciência. Pedaço a pedaço, delicadamente, ela dispõe dos pequenos tecidos num pano maior. Dobra e empilha na mesa. A costura é feita na própria casa.
Bernardina recorda que, anteriormente, trabalha na roça, “onde eu plantava milho, feijão, mandioca”. E com um sorriso estampado no rosto, lembra que “meu pai morreu, casei, fiquei viúva aos 37 e tinha as crianças para alimentar. O sogro mandou dar os filhos, porque dizia que eu não dava conta de cria-los. Fiquei até 80 anos na lavoura e estão todos criados”.
Emprego aos 104 anos
Após 15 anos de trabalho fiel para uma facção da fábrica de estopas de Porto Belo, com o falecimento do proprietário da empresa, dona Dinha ficou desempregada.
A filha Terezinha Angeli Fagundes, que mora com a mãe e forma dupla na produção de estopas, explica que “ela chorou muito porque estava desempregada. Não pelo financeiro, mas porque gosta de fazer, de não ficar parada”.
Já a centenária dona Dinha esclareceu que “eu preciso trabalhar porque é bom. Nem presta ficar desocupada. Quando tenho serviço, isso faz o tempo passar. Eu também faço meus crochês, tenho minha aposentadoria, mas queria alguma coisinha, assim, para mexer nos paninhos. Como gosto muito de trabalhar, fiquei triste quando paramos de receber as estopas e fiquei desempregada”.
O então secretário de Desenvolvimento Econômico de São João Batista e amigo da família, Plácido Vargas, postou uma fotografia de dona Dinha e contou a razão de sua tristeza, o que causou comoção nas redes sociais.
A notícia de que Bernardina estava procurando emprego aos 104 anos logo chegou à família do antigo patrão, que correu para explicar que a parada foi temporária e que ela estava recontratada. “Quando eu a visitei ela estava muito triste. Queria apenas continuar trabalhando e quando postei a foto dela, os filhos do ex-patrão ficaram sabendo. E foi só alegria quando eles voltaram a entregar os retalhos para a produção das estopas”, comentou Plácido.
Novamente empregada e disciplinada, dona Dinha é uma pessoa que não deixa o trabalho para depois. Vai montando as estopas e nem lembra de contar quantas faz em um dia. Quando o pessoal chega para buscar a produção, a meta já foi batida.
O segredo da longevidade
Dorme tarde e acorda cedo. Como qualquer pessoa, a rotina de Bernardina não é muito diferente. Ativa, não costuma ter horário certo para deitar. Se aparecer o sono, lá vai ela para a cama que divide com a filha. Não quer saber de dietas e não se priva de um bom churrasco, onde prefere a gordura da carne. Tem predileção pela polenta misturada ao leite, diretamente do fogão à lenha, usado todos os dias, mesmo no verão.
De boa memória, ela lembra detalhes da vida sofrida. O maior segredo de “durar tanto”, como ela mesma diz, está nos calos das mãos. Medo da morte não tem. Pelo contrário, diz que está pronta, caso o “povo do céu”, necessite chamar por ela. “Ela está melhor que nós todos juntos. Sem colesterol, nem diabete, anda por tudo, uma visão perfeita e lúcida”, conta a filha Terezinha.
Dona Dinha conta que “acordo às 6h, tomo café feito no fogão à lenha e começo a trabalhar. Nós também criamos galinhas e pintos, temos muito o que fazer. Não sei qual o segredo para viver bem e feliz, quem manda na minha vida é Deus”, relata. E arrematou: “Vou até onde Deus quiser …”