Cinco religiosas que conviveram com Madre Paulina tiveram a honra de serem as primeiras a verem, em versão bidimensional, o rosto descoberto da Santa. Em vez da mulher triste e cabisbaixa da foto mais conhecida de Paulina, elas viram a face de uma mulher serena e feliz. Na comemoração pelos 150 anos de seu nascimento, Santa Paulina – a primeira personalidade brasileira canonizada pelo Vaticano – será apresentada novamente aos católicos.
De acordo com o jornal O Estado de São Paulo, graças a um trabalho de reconstituição tridimensional, com base no próprio crânio da religiosa, um designer especializado e sua equipe preparam a escultura mais realista já feita da santa.
A ideia surgiu em agosto. Com um currículo recheado de experiências – incluindo a reconstituição dos rostos de Santa Maria Madalena e Santo Antônio de Pádua –, o designer Cícero Moraes decidiu voltar-se para a hagiologia brasileira. Pensou primeiro em Frei Galvão – Antônio de Sant’Ana Galvão, o franciscano que viveu entre 1739 e 1822 e cujos restos mortais estão no Mosteiro da Luz, em São Paulo. “Mas o crânio dele, infelizmente, não apresenta condições para esse trabalho, pois está muito deteriorado.”
Foi quando o advogado José Luís Lira, presidente da Academia Brasileira de Hagiologia, sugeriu Madre Paulina, nascida Amabile Lucia Visintainer (1865-1942), tirolesa que emigrou ao Brasil aos 10 anos, fundadora da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição e, em 2002, reconhecida pelo Vaticano como a primeira santa brasileira. “As irmãs que conheceram Santa Paulina acham que nenhuma imagem conhecida dela corresponde à verdadeira face”, justifica Lira. Há apenas cinco religiosas ainda vivas que conviveram com a santa – todas moram em uma casa religiosa mantida pela ordem em Bragança Paulista, sob cuidados especiais, em virtude da idade avançada.
O projeto foi bem-recebido pelas 12 irmãs que vivem na sede geral da congregação, no bairro do Ipiranga. Ali, onde a santa viveu, o quarto dela foi preservado – integra um memorial de seis salas, aberto à visitação pública. E, em uma urna lacrada, são mantidos os restos mortais de Paulina. “A exumação foi necessária durante o processo de canonização”, explica irmã Roseli Amorim, superiora-geral da ordem religiosa.
Fotos. Em setembro, o designer Moraes esteve no local. Examinou o crânio, impressionou-se com a conservação e colheu imagens. “Foram 120 fotos, de todos os ângulos”, relata. Era o ponto de partida para o projeto. Transferidos para o computador, os registros passaram a ser cruzados graças a um algoritmo. “Com isso, conseguimos uma nuvem de pontos com o volume do crânio, que foi convertida em uma malha 3D com superfície. É esta a base para criarmos a escultura digital”, conta. O processo levou dez dias.
Então o material foi enviado para o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), um instituto federal com sede em Campinas. Ali, foi “impresso” em 3D. “Cada busto leva em torno de 24 horas para ficar pronto, com a máquina funcionando ininterruptamente”, explica o engenheiro Jorge Vicente Lopes da Silva, chefe da divisão de tecnologias tridimensionais do CTI. “Isso porque o trabalho é feito em camadas com 0,1 milímetro de espessura cada.”
Nos próximos dias, o material será enviado de volta para o designer, que já escolheu uma artista plástica, Mari Bueno, para dar cor à santa. No dia 13, na missa das 11 horas da capela da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, a imagem será apresentada aos fiéis. No domingo seguinte, será a vez de a comunidade do Santuário Santa Paulina, em Nova Trento (SC), ser apresentada à “nova” Santa Paulina.