
O Senado Federal está analisando um projeto de lei que pode endurecer as punições para crimes cometidos por presos durante o período de saída temporária — conhecida popularmente como “saidinha”. A proposta busca aumentar as penas de quem volta a delinquir enquanto usufrui de benefícios como liberdade condicional, prisão domiciliar ou fuga.
O Projeto de Lei 476/2023, de autoria da senadora Damares Alves, altera o artigo 61 do Código Penal para incluir como circunstância agravante o fato de o crime ter sido praticado durante regimes de benefício ou fora do sistema prisional. Na prática, isso significa que, se um condenado cometer novo delito durante a saidinha, a pena poderá ser aumentada no momento do cálculo judicial.
A senadora defende que a medida “fecha o cerco” contra quem abusa dos benefícios concedidos pelo Estado, enquanto o relator da proposta, senador Esperidião Amin, argumenta que o rigor é necessário para proteger a sociedade e punir de forma mais severa quem desrespeita as oportunidades de reinserção concedidas pelo sistema penal.
O projeto já foi aprovado pela Comissão de Segurança Pública e agora segue para análise na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Caso seja aprovado em todas as etapas, a nova regra passará a valer para crimes cometidos durante saídas temporárias, prisão domiciliar ou liberdade condicional.
Com a mudança, o cálculo das penas poderá considerar automaticamente essa agravante, o que tende a aumentar o tempo de encarceramento dos condenados. O objetivo é reforçar a confiança da população no sistema de justiça e coibir a reincidência de crimes cometidos por presos beneficiados.
Por outro lado, especialistas em direito penal e execução penal alertam que o aumento de penas, por si só, pode não resolver o problema da reincidência. O debate inclui a necessidade de equilibrar segurança pública e ressocialização, já que a saidinha tem como propósito permitir a manutenção de vínculos familiares e a reintegração social do preso.
O projeto reacende discussões sobre o papel das saídas temporárias no sistema prisional brasileiro. Enquanto parte da sociedade apoia o endurecimento das punições, outra parte defende que a saída é um instrumento importante de reintegração e que o foco deveria estar no acompanhamento e na avaliação rigorosa dos presos que recebem o benefício.
Se aprovado, o projeto representará uma mudança significativa no Código Penal, reforçando o caráter punitivo do sistema, mas também levantando questionamentos sobre a efetividade de medidas que aumentam penas sem atacar as causas da reincidência criminal.