Palavrório: o vocabulário funesto dos vereadores

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Foi uma revisita aos piores momentos já vividos pela Câmara de Vereadores de São João Batista. Da construção de frases com objetivo de aniquilar o ‘inimigo’, sem que o interesse público seja colocado, ao repositório de palavras que poderiam ser aceitas em qualquer briga de adolescentes na saída da escola.

Após o discurso da presidente Rúbia Tamanini (PSD) os microfones ficaram abertos, e foi possível ouvir a frase que melhor caracteriza a reunião dos vereadores dessa segunda. “Tem que ser forte. Ainda bem que sou”, disse Rúbia. Ela, a audiência e os eleitores precisam ser fortes para encarar no olho da verdade pós-urna e que enterra o discurso da política nova.

No palavrório da Câmara a expressão mais usada foi ‘ladrão’. Do vereador Betinho Souza (PPS) ao afirmar que podia ser “chorão, mas não ladrão”, aos vereadores Déi do Gás (PSD) e Carlos Francisco da Silva (PP) que trocaram acusações, e ‘ladrão’ foi repetido algumas vezes. E nem a ‘alma limpa’ de Juliano Peixer (PEN) foi suficiente para tirar a sessão do baixo astral. Como em uma sala cheia de cascavéis era possível escutar o chacoalhar da cauda de casa.

Foram também Déi e Carlinho que levaram ao debate mais uma palavra para o vocabulário da legislatura. Acusaram-se mutuamente de serem “retardados”. No sentido popular a expressão significa ‘uma pessoa idiota e imbecil, sem noção das coisas’. Supõe-se que do eleitorado atônito pelo nível do debate alguns tenham se sentido assim. Para os dois parlamentares não foi suficiente os microfones abertos, seguiram se provocando após desligados.

Sistemática do discurso no legislativo batistense segue a mesma linha da campanha eleitoral. Sem o desmonte do palanque eleitoral os temas que servem aos ouvidos dos mais ‘radicais colas brancas e pretas’, corroem a proposição ou construção de uma nova dialética política. Mantem-se a linha do ‘grupo A’ contra o ‘grupo B’, como fez questão de ressaltar Leôncio Cipriani (PMDB) em discurso.

Emedebista insiste na manutenção da cisão entre grupos, a luta entre o bem e mal ou os fortes e fracos. Vai na contramão da pregação do prefeito Daniel Cândido (PSD). Dos 11 vereadores que compõe a atual legislatura, apenas dois foram reeleitos. Renovação que gerou expectativa de mudança nos antigos hábitos e trouxe esperança que a Câmara batistense evoluísse. Engano de quem não compreende a complexa relação entre partidos políticos na Capital Catarinense do Calçado. Vão guerrear em arena pública até o inimigo sangrar.

No auge da descrença com a política, vereadores deixam ideologias e propostas de lado e apostam em brincadeiras e agressões de mau gosto. Assim, fica difícil resgatar a credibilidade junto à sociedade. Ao renovarem as cadeiras no legislativo o eleitorado esperava ter um respiro nos velhos costumes da política. Enganaram-se. Não foi suficiente para aplacar o partidarismo cego. Dobram a aposta em um vale-tudo por aplausos e gritos que mistura o jocoso com o oportunismo.

É um viés do que acontece nas sombras do poder. Disputa entre partidos e lideranças políticas, nos 59 anos de emancipação de São João Batista se dão na linha de uma terra dividida. Facções que disputam o comando e os súditos, e na história incentivaram a criação dos blocos. Ainda hoje essa tradição está em vigência, e esse é um dos fatores que demoniza qualquer desejo de mudar os mecanismos dos debates legislativos. Bandeiras são mais importantes que propostas coletivas.

Se faltam ideologias, sobram brincadeiras e ataques uns aos outros. Usam trocadilhos, ironias e de construções inusitadas para chamar atenção. No palavrório da Câmara, o interesse público vai ficando as margens. Renovar o modo de exercer a política é essencial no momento em que vivemos, e se os políticos locais não entenderem estarão fadados a bancar o preço nas urnas. Falta no palavrório o ‘respeito’, ao povo detentor do poder. É canalizar a energia gasta nos debates pessoais para busca de soluções de alcance para a cidade.

Caderninho do palavrório da Câmara deve receber diversas novas expressões no decorrer da legislatura. O clima que começou amigável foi a hostil e já beira a guerra. “Ladrão”, “Chorão”, “Retardado”, mostram as desventuras do eleitor batistense. Com as exceções de alguns representantes no Legislativo, cabe ao cidadão fazer pressão e exigir que seu eleito se comporte como político adulto, e não adolescentes brigando no portão do colégio.

No título usei o termo funesto. Enquadra-se perfeitamente no contexto da reunião desta segunda-feira. Funesto é o que é mortal, que pode ferir ou machucar gravemente. Que pode causar aflição ou amargura; que incita a tristeza; que é lamentável; deplorável.

PALAVRÓRIO:

Retardado: Sentido popular: pessoa idiota e imbecil, sem noção das coisas. Termo quase científico: indivíduo com problemas mentais de saúde, débil mental, louco.

Ladrão: Possuidor das coisas alheias. Aquele que pega sem pedir e nunca mais devolve.

Chorão: Pessoa que chora por tudo e por nada. Árvore de ramos pendentes.

Alma limpa: Sem rancores guardados, sem culpa, retirou todas as coisas ruins.

 

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