Foram registrados 248 casos em bebês somente no primeiro semestre deste ano. A doença teria sido evitada com o correto diagnóstico e tratamento da gestante. Os casos de sífilis vêm aumentando ano a ano no mundo, no Brasil e em Santa Catarina. A estimativa da Organização Mundial da Saúde é que 937 mil pessoas são infectadas a cada ano no país. Em Santa Catarina, foram registrados 1.963 novos casos de sífilis adquirida em 2014, um crescimento em torno de 30% em relação aos casos notificados no ano anterior. Em 2015, entre janeiro e julho, 1.461 pessoas contraíram a doença. Foram também notificados casos em 654 gestantes. Entre 2010 e 2014, 6.344 pessoas foram diagnosticadas com sífilis no Estado.
A sífilis congênita – transmissão da doença da mãe para o bebê – é ainda mais preocupante, considerando que a criança nasce livre da sífilis se houver o tratamento adequado da gestante infectada e do seu parceiro sexual. O último levantamento do Ministério da Saúde, realizado em 2013, apontou que 21.382 gestantes contraíram sífilis e 13.705 bebês nasceram com a doença. Desses, 161 morreram.
Em Santa Catarina, foram registrados 248 novos casos em bebês somente no primeiro semestre de 2015 – um crescimento de 43% em relação ao mesmo período do ano passado. De janeiro a dezembro de 2014, foram 268 casos e sífilis congênita, com 20 abortos e 16 natimortos. Nos últimos 10 anos, houve um progressivo aumento na taxa de incidência de sífilis congênita no Brasil: a taxa passou de 1,7 casos a cada 1.000 nascidos vivos em 2004 para 4,7 em 2013.
Por isso, são as mulheres grávidas que requerem maior atenção no diagnóstico e tratamento da sífilis, uma doença infecciosa sexualmente transmissível causada pela bactéria Treponema pallidum. A infecção pode provocar má formação do feto e aborto. Quando nasce, o bebê com sífilis apresenta graves sequelas que podem variar entre pneumonia, feridas no corpo, cegueira, problemas ósseos, surdez ou deficiência mental. Se as gestantes fizerem o diagnóstico em tempo apropriado e o tratamento correto, realizado com a administração de três doses de penicilina, as chances de infecção do bebê caem consideravelmente.
“É importante solicitar o teste também ao parceiro dessa gestante, e inclui-lo no tratamento. Somente assim reduziremos a quantidade da bactéria circulando no Estado”, afirma o médico infectologista Filipe de Barros Perini, da Gerência de DSTs/Aids e Hepatites Virais da Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina (Dive/SC). Todas as pessoas sexualmente ativas devem realizar o teste para diagnosticar a sífilis, independente de apresentarem sintomas. O teste rápido é um exame realizado a partir de uma gota de sangue, disponibilizado nas Unidades Básicas de Saúde – gratuito e sigiloso. “Em menos de 30 minutos, o paciente tem o resultado do teste rápido para sífilis e pode iniciar o tratamento de forma imediata”, explica Filipe.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima 1 milhão de casos de sífilis por ano entre as gestantes e preconiza a detecção e o tratamento oportunos destas e de seus parceiros sexuais portadores da sífilis, considerando que a infecção pode ser transmitida ao feto, com graves implicações. A eliminação da sífilis congênita e da transmissão vertical do HIV constitui uma prioridade para a região da América Latina e do Caribe.
A transmissão
A sífilis é transmitida, principalmente, através de relações sexuais sem proteção. A doença também pode ser transmitida de forma vertical ou congênita, ou seja, a partir da mãe contaminada para o bebê, durante a gravidez ou parto. Pode ser, ainda, transmitida na transfusão de sangue contaminado e pelo contato com lesões ativas de pele ou mucosas.
“Numa relação sexual, a chance de infecção da Treponema pallidum é de 60%”, enfatiza o médico infectologista. É preciso se prevenir, usando preservativos em todas as relações sexuais. “E também para o sexo oral, que é altamente infectante”, reforça. Ele ainda alerta: “as Doenças Sexualmente Transmissíveis nunca vêm sozinhas. A bactéria que causa a sífilis atrai as células de defesa, principais alvos do HIV/Aids, por exemplo”.
Sinais e sintomas
O primeiro sintoma da doença é surgimento de uma pequena ferida nos órgãos sexuais, a úlcera ou cancro, que na maioria das vezes é única, e nódulos nas virilhas (ínguas), aproximadamente três semanas, após o sexo desprotegido com alguém infectado. A ferida e as ínguas não doem, não coçam, não ardem e não apresentam pus. Mesmo sem tratamento, essas feridas podem desaparecer sem deixar cicatriz. Mas a pessoa continua infectada e a doença se desenvolvendo, mesmo sem causar sintomas. Ao alcançar o segundo estágio, podem surgir manchas em várias partes do corpo (inclusive mãos e pés) e queda dos cabelos, simulando uma alergia.
Após algum tempo, que varia de pessoa para pessoa, as manchas também desaparecem, dando a ideia de melhora. A doença pode ficar sem apresentar sintomas por meses ou anos, até o momento em que surgem complicações graves como cegueira, paralisia, doença cerebral e problemas cardíacos, podendo, inclusive, levar à morte. Importante lembrar que a sífilis cursa com períodos sintomáticos e assintomáticos intercalados, e o indivíduo permanece contaminante caso não seja tratado.