De Capitão Amorim em 1834 até hoje, São João Batista viveu suas glórias e tempestades, se reinventando constantemente. Aos 62 anos a cidade é uma senhora em frente ao espelho e se enfeitando toda, buscando resolver seus dramas e encarando o futuro. No consultório de um psiquiatra São João Batista seria considerada bipolar. Em alguns momentos se mostra estressada, deprimida e com baixa autoestima. Em outros, eufórica.
A noite parece aquela cidadezinha de 19 de julho de 1958, dia da emancipação do município. Apresenta um enorme vazio no centro. Apática, demonstra dificuldade de planejamento, desesperança, desamparo e preocupação com o futuro. Nos últimos anos, a cidade que tinha 16 mil habitantes saltou para 37 mil moradores, perdeu o controle da situação, engordando em excesso, excedendo seus limites geográficos com as construções em áreas de risco. A São João Batista de hoje queixa-se de febre, calafrios e entupimento de suas artérias.
Em 62 anos, a cidade teve suas revoltas internas. Teve que mudar. A cidade que faliu nos anos 90, ressuscitou na década seguinte com um polo calçadista vibrante. Hoje passa por mais uma crise de identidade. Com 70% de sua mão de obra na indústria calçadista, tem assistido à redução da oferta de empregos. É mais um desafio para a senhora problemática.
A pandemia do novo coronavírus trouxe desafios adicionais. Em três meses, a senhora preocupada viu quase quatro mil de seus filhos perderem o emprego e tem ai seu maior drama. Arrecadação do município caiu mais de 30%, viu seu sistema de saúde sobrecarregar e está exposta ao acaso.
Cidade que apresentava índices de crescimento acima da média estadual, hoje vê a falência de diversas empresas. E o corpo não está sendo capaz de produzir anticorpos suficientes para combater a infecção. Só nos últimos cinco anos, cerca de 60 empresas do setor calçadista fecharam as portas. A oferta de empregos está ficando comprometida.
Na mesa cirúrgica a cidade encara suas plásticas. Uma grande intervenção urbanística está sendo realizada, com novas avenidas e prédios com arquitetura contemporânea. Aos 62 anos, São João Batista se apresentava desleixada, entregue ao tempo. Um investimento milionário está sendo executado com nova ponte, asfalto e até um novo Manecão. A senhora de meia idade quer se mostrar bonita. Por fora e por dentro. Quer atrair olhares. Quer seduzir.
São João Batista tem orgulho de sua história, mas alguns traumas persistem. É discreta, não gosta de falar sobre passado. Pouco lembra do período em que foi comandada pelo interventor Capitão José Antônio Bento (1971-1973). Em 1964 durante o Golpe Militar a cidade se escondeu. Durante dois dias a população, com poucas informações de além fronteira, se trancou em casa.
Os 62 anos, completos no dia 19 de julho, servirão para festejar e refletir. A cidade deseja avançar, tem sonhos. Quem mora em São João Batista sabe que, como em qualquer lugar, a cidade tem problemas: violência, transito tumultuado, deficiências na saúde, na educação. Mas isso não tira o orgulho do batistenses. Afinal, sobram motivos para amar a cidade. Amor que, nem sempre, é à primeira vista. Uma cidade que não tem nada de fria.
O aniversário de São João Batista mostra que a cidade enfrenta suas crises, cresce, se reinventa e continua sendo aquela cidadezinha doce e acolhedora.