Custo de produção cada vez maior, causado por problemas de logística e insumos caros, aliados a preços baixos pagos pelo litro do leite. Esse foi o cenário apresentado por produtores que participaram da audiência pública organizada na tarde desta quinta-feira (26) pela Comissão de Agricultura e Política Rural da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, em Pinhalzinho, no Oeste catarinense. O evento, que tratou dos desafios da cadeia produtiva do leite, contou com a presença de autoridades e produtores de mais de 20 municípios da região.
Conforme o deputado Moacir Sopelsa (MDB), proponente do encontro, Santa Catarina é o quarto maior produtor de leite do país, com 3,4 bilhões de litros em 2017. Nos últimos 11 anos, a produção estadual cresceu 92%. Só o Oeste responde por 76% da produção catarinense.
“É o nosso terceiro principal produto, ficando atrás só do frango e do suíno”, disse Sopelsa. “Precisamos saber o que queremos para a produção de leite. A Assembleia não veio achar a solução, mas temos o compromisso de ajudar a construir uma proposta pra consolidar essa produção e resolver os problemas.”
Mais de 20 produtores se manifestaram durante a audiência, que durou quase quatro horas. Todos apontaram dificuldadades e demonstraram preocupação com o futuro da produção, em virtude dos custos altos e o baixo preço recebido. Muitos falaram no medo da falência, no desejo de abandonar a atividade e nas incertezas quanto à permanência dos jovens no campo.
“Estamos sendo empurrados para fora da atividade. Só vão sobrar os grandes produtores, mas com um custo elevado de produção”, afirmou Leonir Bettanin. “Não temos mais gordura para queimar. Ou nós somos melhor remunerados ou vamos abandonar o leite”, completou Júnior Meuer.
Ao final da audiência, os participantes decidiram criar um grupo com representantes da cadeia produtiva do leite e parlamentares para avançar nas demandas do setor. Entre elas, estão a redução do ICMS, visando igualar a alíquota praticada pelos estados vizinhos, e mudanças no PIS Cofins que incide sobre o setor. A criação de uma frente parlamentar do leite também ficou acertada, entre outros encaminhamentos.
Panorama
Representante dos produtores na mesa de autoridades, Guilherme Werlang, defendeu o estabelecimento de um preço mínimo para o litro do leite, além da redução do ICMS, entre outras reivindicações. Ele afirmou que o custo médio para os produtores em 2016 chegou a R$ 1,28 por litro. No entanto, a indústria pagava R$ 1,06 para os produtores. Além disso, o custo final para o consumidor de alimentos a base de leite é elevado perto daquilo que os produtores recebem.
“Não precisa fazer muitas contas para saber que estamos num momento delicado. Estamos de mãos atadas, porque não temos condições de investir”, afirmou Werlang. “Precisamos sensibilizar a todos para que os produtores possam ganhar um pouco mais, porque do jeito que está, o nosso futuro é obscuro.”
Representante das indústrias, Valter Brandalise, que também integra o Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do Estado de Santa Catarina (Conseleite), afirmou que a crise econômica impactou no consumo de leite e derrubou os preços do produto diante de uma produção elevada. Segundo ele, os preços têm se recuperado nos últimos meses.
Sobre os desafios para o setor, aumento da produtividade, dificuldades com a assistência técnica e no acesso ao crédito, problemas logísticos e pouca valorização do leite de qualidade estão entre os principais, na visão de Brandalise. Ele também criticou a questão tributária. “É preciso auxílio do governo, não são a indústria e o produtor que vão resolver esses problemas”, afirmou.
Opiniões
O secretário de Estado da Agricutura e da Pesca, Airton Spies, afirmou que as perspectivas para a produção leiteira são positivas, pois a tendência é de aumento no consumo em todo o mundo. “Mas para isso nossos produtores precisam se preparar para exportar. Temos que investir em qualidade, e melhorar a logística, porque o custo de produção é cara”, disse.
O deputado Dirceu Dresch (PT) afirmou que o Estado precisa adotar uma estratégia para a cadeia leiteira, com assistência técnica e pesquisa. “A agricultura familiar tem que ter mais espaço, porque nem todo mundo vai conseguir exportar”.
A deputada Luciane Carminatti (PT) acredita que há espaço para diálogo com o Poder Executivo para incentivar o setor, mas o aumento do consumo “passa pela melhoria da qualidade de renda da população”. Ela também defendeu a concessão de incentivos fiscais, principalmente para os pequenos produtores.
Já o deputado Marcos Vieira (PSDB) afirmou que o produtor é a parte mais exigida da cadeia do leite, sem receber os subsídios necessários para garantir seu sustento. Ele defendeu que o Estado crie um programa voltado para a exportação. “Temos que aproximar o produtor e a indústria, para que o produtor tenha um ganho maior, sem prejuízo da indústria”, disse.
O suplente de deputado estadual Altair Silva (PP) cobrou melhoria nas estradas por onde é escoada a produção, além da ampliação da oferta de energia elétrica para as propriedades leiteiras. O deputado César Valduga (PCdoB) também ressaltou os problemas com as estradas e a eletricidade e defendeu a redução da carga tributária para o setor.
Os prefeitos de Pinhalzinho, São Carlos, Bom Jesus do Oeste, Cunhataí e Modelo participaram do encontro, assim como vereadores e secretários municipais de São Miguel do Oeste, Cunhataí, Capinzal, Xavantina, Jardinópolis, Nova Erechim, Faxinal dos Guedes, Saudades, Guaraciaba, Serra Alta, Itapiranga, Herval d’Oeste, São José do Cedro, Sul Brasil, Marema e Arabutã.
Cidasc, Banco do Brasil, Epagri, Fecoagro, Fiesc e Senai encaminharam representantes para a audiência. Os deputados estaduais Valmir Comin (PP) e Neodi Saretta (PT), além dos federais Celso Maldaner (MDB), Pedro Uczai (PT) e Valdir Colatto (MDB), também foram representados no evento.