Uma análise de amostras de farinha e arroz, coletadas em residências de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, detectou elevadas quantidades de micotoxinas, substâncias tóxicas produzidas por fungos. Este estudo, pioneiro no Brasil ao utilizar biomarcadores para avaliar o risco dessas toxinas na dieta, foi conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e contou com o apoio da FAPESP, sendo publicado na revista Food Research International.
Os pesquisadores enfatizaram que a ingestão de micotoxinas pode causar diversos problemas de saúde, principalmente em crianças e adolescentes. A pesquisa destaca a necessidade de armazenar alimentos como grãos e farinhas em locais secos e protegidos de insetos para evitar contaminações.
Carlos Augusto Fernandes de Oliveira, professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA-USP) e coordenador do estudo, explicou que a proliferação de fungos em alimentos depende de condições inadequadas de armazenamento, como exposição a ambientes quentes e úmidos. Segundo ele, mais de 400 toxinas produzidas por fungos são conhecidas, sendo seis delas particularmente preocupantes devido aos seus efeitos cancerígenos, imunossupressores e desreguladores endócrinos.
Nas amostras analisadas, foram encontradas aflatoxinas (AFs), fumonisinas (FBs), zearalenona (ZEN), toxina T-2, desoxinivalenol (DON) e ocratoxina A (OTA), com taxas de FBs, ZEN e DON acima dos limites toleráveis estabelecidos por órgãos de saúde. A aflatoxina B1, por exemplo, é reconhecida como um potente carcinógeno natural, capaz de causar mutações genéticas e carcinoma hepático, além de efeitos imunossupressores e reprodutivos.
A desoxinivalenol, embora não cancerígena, reduz a imunidade e provoca irritação gastrointestinal, sendo conhecida como “vomitoxina”. Já a fumonisina B1 e a ocratoxina A são possíveis carcinógenos humanos, podendo causar câncer esofágico e problemas hepáticos. A zearalenona, semelhante ao hormônio feminino estrógeno, pode levar a hiperestrogenismo.
As análises foram realizadas utilizando cromatografia líquida de ultraeficiência acoplada à espectrometria de massa em tandem (UPLC-MS/MS), permitindo a identificação precisa das toxinas. As amostras foram coletadas de 67 domicílios, envolvendo 230 amostras de alimentos consumidos por crianças e adolescentes.
O estudo está em uma segunda fase, analisando amostras de urina das crianças e adolescentes para avaliar a exposição às micotoxinas. A excreção de biomarcadores na urina se correlaciona bem com a ingestão dessas toxinas, permitindo antever os potenciais efeitos da contaminação.
Os resultados deste estudo reforçam a importância de práticas adequadas de armazenamento de alimentos para prevenir a contaminação por micotoxinas e proteger a saúde, especialmente de populações vulneráveis como crianças e adolescentes.