Cientistas da Universidade de Columbia criaram uma vacina bacteriana que “treina” o sistema imunológico para eliminar células cancerígenas. O estudo, publicado na revista “Nature” nesta quarta-feira (16), utilizou modelos de camundongos com câncer colorretal avançado e melanoma, e pode abrir caminho para uma nova classe de vacinas contra o câncer.
A vacina aproveita as propriedades naturais das bactérias para direcionar tumores, permitindo uma personalização para atacar tanto tumores primários quanto metástases em cada paciente, com a promessa de prevenir recorrências futuras. Nos testes, a vacina estimulou o sistema imunológico a suprimir o crescimento de cânceres primários e metastáticos, sem causar danos às partes saudáveis do corpo.
Os pesquisadores destacam que essa abordagem é especialmente promissora para tumores sólidos avançados, que são difíceis de tratar com outras imunoterapias. No experimento, a vacina conseguiu controlar ou eliminar o crescimento dos tumores e aumentou a sobrevida dos camundongos.
Nicholas Arpaia, professor associado de Microbiologia e Imunologia da Universidade de Columbia, explicou que cada câncer possui mutações genéticas únicas, diferenciando as células tumorais das saudáveis. Com base nisso, as bactérias foram programadas para identificar essas mutações e atacar as células cancerígenas. “Ao programar bactérias para direcionar o sistema imunológico contra essas mutações, podemos desenvolver terapias mais eficazes que estimulem o sistema imunológico do paciente a identificar e eliminar suas células cancerosas”, afirmou Arpaia.
Embora os testes tenham sido realizados em camundongos, os cientistas estão otimistas quanto ao potencial de aplicação em humanos e acreditam que a tecnologia possa representar um avanço significativo em relação às vacinas contra o câncer desenvolvidas até agora. Em humanos, o primeiro passo será sequenciar o câncer do paciente para identificar as mutações. Em seguida, as bactérias serão programadas para atacar essas mutações, permitindo a criação da vacina em um curto período. Uma vez ativado pela vacina bacteriana, o sistema imunológico seria estimulado a eliminar as células cancerígenas espalhadas pelo corpo e a impedir o desenvolvimento de metástases.
“As bactérias permitem a entrega de uma concentração maior de medicamentos do que seria tolerada se esses compostos fossem administrados sistemicamente por todo o corpo. Aqui, podemos confinar a entrega diretamente ao tumor e modular localmente como estamos estimulando o sistema imunológico”, explicou Arpaia.