O Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, suspendeu as cirurgias eletivas (que não são de emergência) desde terça-feira em razão da falta de recursos. As famílias que tinham cirurgias agendadas foram informadas dos cancelamentos a partir desta segunda. A crise que atinge o Infantil afeta o atendimento de pacientes do Vale do Rio Tijucas, já que o hospital é referência para região;
Os problemas com falta de material ocorrem há pelo menos dois meses e as cirurgias eletivas continuaram sendo feitas até agora com ajuda da associação de voluntários do hospital, que vinha comprando os itens em falta. Cerca de 2 mil crianças esperam atualmente por uma cirurgia no Joana de Gusmão. A crise na saúde também tem reflexos no atendimento do Cepon, que trabalha com prevenção e tratamento do câncer. A partir de 1º de setembro, a emergência da unidade passa a funcionar das 7h às 19h. Hoje, o atendimento é 24 horas por dia.
Os deputados estaduais reagiram à crise da saúde pública em Santa Catarina e responsabilizaram o governo pela situação caótica. “É grande a dificuldade do setor de saúde, interrupção de cirurgias e de procedimentos no Hospital Infantil Joana de Gusmão, faltam bolsas para colostomizados, medicamentos, fechamento de emergências, atraso no pagamento de prestadores de serviços, filas enormes, quase um caos”, descreveu Fernando Coruja (PMDB) na sessão desta terça-feira (29) da Assembleia Legislativa.
O deputado lageano acusou o governo de não repassar à saúde o percentual previsto na Constituição. “A argumentação é que falta dinheiro por causa da crise (econômica), mas não é só a crise, o governo precisa passar um percentual da sua receita, era 12%, agora é 13%, então pode até diminuir o recurso, não o percentual, mas em Santa Catarina não se aplica o percentual, o recurso não está sendo repassado à saúde”, denunciou Coruja, que destacou que o Ministério Público instalou um inquérito civil para apurar o não repasse dos recursos.
Gabriel Ribeiro (PSD) discordou do conterrâneo. “Santa Catarina é o estado mais bem administrado do Brasil, estamos tomando empréstimo do BNDES para dar recursos aos municípios para obras importantes de infraestrutura. O governador fez a reformas, colocou as contas em dia, promoveu uma grande transformação. Jogar números é muito fácil, mas a responsabilidade do governador é traduzida na renovação do Fundam”, argumentou Gabriel.
Neodi Saretta (PT), ao contrário, concordou com Coruja. “Estamos vendo cancelamento de cirurgias e de consultas, há uma preocupação muito grande, aliás essa tem sido a tônica da Comissão de Saúde. Quero fazer um apelo para que se possa encontrar uma forma urgente para repor isso, quem sabe os R$ 300 milhões dos R$ 1,5 bilhão do Fundam não vão para a Saúde?”, sugeriu Saretta.
Para Luciane Carminatti (PT), a saúde está naufragando. “A gente não pode incluir a saúde na frente parlamentar do setor náutico?”, ironizou Carminatti, acrescentando que os municípios não suportam mais a gestão do governo do estado na área da saúde. “As pessoas entram na fila e acabam virando situação de emergência, tem 15 mil na fila na região Oeste, mas o governo só consegue pagar uma cirurgia a cada dez pacientes”, lamentou a deputada, que questionou os incentivos fiscais que drenam recursos da saúde.
Um freio nos empréstimos
Kennedy Nunes (PSD), em aparte ao deputado Coruja, sugeriu frear os empréstimos bilionários. “A Celesc acaba de mandar um pedido de empréstimo de R$ 1 bilhão, isso é preocupante, a Celesc pedir um empréstimo de R$ 1 bilhão. Acho que a gente tem de dar uma segurada, há muita pressão da bancada do PMDB, parece que do vice-governador”, revelou o representante de Joinville.