Mais um filhote de labrador começará a ser treinado para atuar em buscas e salvamento com o Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina (CBMSC). A Moana já passou por uma seleção inédita: foi a primeira vez que o CBMSC atuou em parceria com uma comportamentalista canina para a escolha do cão.
“Essa inovação é de extrema importância para a atividade catarinense, para um avanço no trabalho com cães no CBMSC, trazendo cada vez mais resultados nas buscas”, explica o coordenador da atividade cinotécnica da corporação, Tenente Coronel BM Walter Parizotto. Cinotecnia é a ciência responsável pelo estudo da fisiologia e psicologia dos cães e, no Corpo de Bombeiros, responde por todo o trabalho realizado com esses animais.
A cadelinha agora faz parte do 7º Batalhão Bombeiros Militar, com sede em Itajaí, e será a dupla inseparável do soldado BM Thiago Amorim. Além do novo tutor, esteve em São Paulo o sargento BM Evandro Amorim, que traz a experiência adquirida de anos de treinamento com o Ice, cão de busca aposentado do CBMSC. Hoje o animal atua com terapias visitando hospitais, além de auxiliar nos treinamentos da corporação, com outros cães.
“Ela vai seguir os passos do Ice, no 7º Batalhão, continuando o trabalho dele. Vamos nos dedicar muito para esse treinamento e tenho certeza que ela vai ajudar a população futuramente”, comemora o soldado Amorim.
A seleção ocorreu durante dois dias com a adestradora Sara Favinha, sócia da empresa “Tudo de Cão”. Foram realizados testes em 15 cães de duas ninhadas que estão com 50 dias de vida.
“Os bombeiros são muito conectados aos cães, muito preocupados com o bem estar dos animais. Realmente é incrível observar o cuidado, a atenção, o carinho e o amor que eles têm por esses cães”, comenta Sara.
Sara é zootecnista, adestradora comportamentalista, trabalha com a seleção de cães, desde 2005, para Intervenções Assistidas e também seleciona animais de serviço para cadeirantes e crianças com autismo. O conhecimento da profissional aliado aos testes, levaram em conta a personalidade dos filhotes e a experiência do Corpo de Bombeiros Militar de SC, que possui a tradição no trabalho com os cães.
“Os bombeiros fizeram questão de trocar comigo as experiências durante toda a avaliação, nós conversamos muito. Eu falava a característica dos cães e eles me deram também a visão deles. Foi uma experiência muito bacana e fico à disposição para auxiliar em futuras seleções”, comentou a profissional.
A escolha dos filhotes
A seleção para um novo cão de busca e salvamento, que não seja de uma cruza entre os animais da corporação, é bem detalhada e demanda atenção. Além das características dos animais, entra ainda em questão a genética.
“Mapeamos alguns estados e encontramos neste local um risco reduzido para o desenvolvimento de doenças genéticas que os labradores podem apresentar. Também levamos em conta o bem estar dos pais e o cuidado com os filhotes”, detalha o tenente-coronel Parizotto.
Além dos laudos negativos para as doenças, foram feitos testes com os filhotes, para verificarem as pré-disposições e o comportamento dos animais. “O temperamento é algo que não muda com o condicionamento, então nós precisamos saber as características para que possa ser iniciado o treinamento, com os cães ainda jovens”, explica o sargento Amorim. “Por exemplo, para as nossas buscas não podemos ter um cão que apresente medo. E nessa fase, com 50 dias, já é possível analisar se o cão possui essa característica, que para nós é excludente”, complementa.
Os testes realizados pelos bombeiros militares, em parceria com a comportamentalista canina, foram feitos individualmente, em uma sala reservada, dando a oportunidade para o filhote se expressar, sendo assim avaliados e induzidos a expressar comportamentos necessários para um cão de busca, para então ser feita a leitura do perfil traçado para o CBMSC.
“Nós corríamos o risco de vir para São Paulo e nessas duas ninhadas não conseguirmos encontrar um cão com o perfil que o CBMSC precisa”, destaca o sargento.
Os resultados da Moana
“Ela é muito doce, extremamente conectada com pessoas e se mostrou muito equilibrada, em todos os momentos. A Moana respondeu muito bem a todas as propostas que foram apresentadas para ela, se movimentou bem, explorou os ambientes apresentados para ela, foi com todo mundo e demonstrou pouca sensibilidade a barulhos. Ela é o tipo de cão que pode se desenvolver de forma muito colaborativa com o tutor, já que é um cachorro que cria ligações, ela prefere brincar com pessoas do que com brinquedos e isso é muito relevante neste caso”, descreve Sara.
Por que Labrador Retriever?
Em Santa Catarina, a raça escolhida para atuação com busca e resgate é o Labrador. As grandes características destes animais são a docilidade, a capacidade de aprendizado e a obediência. Muito ativos e brincalhões, possuem um olfato apurado e são extremamente adaptáveis.
“Os Labradores são cães que respondem às nossas necessidades, por gostarem muito de água, de pessoas, não se melindram em andar na lama. São cães rústicos, muito brincalhões e que se adaptam aos nossos salvamentos. E não é qualquer cão que tem essa possibilidade”, explica o sargento.
A casa da Moana
Assim como todos os cães de busca do CBMSC, que vivem com seus tutores, a Moana agora convive diretamente com o soldado Amorim, na casa dele. Já em Itajaí, a cadelinha chegou mostrando quem é a dona do novo quintal. Cheia de energia ela correu atrás dos cães mais velhos, o Ice, Labrador já conhecido da corporação e o Maui, Border Collie da família. Em poucos dias a nova moradora conquistou todo mundo. “Eu só tenho a agradecer a todos que apoiaram essa jornada para chegar até aqui”, exclama o soldado.