Em ruínas desde o período pré-eleitoral de 2016, a oposição de Canelinha vai se dissolvendo no embate político, e pode encontrar dificuldades em restabelecer o diálogo com a sociedade. As sombras dos últimos 12 anos no poder cobram a conta. Falta da máquina pública, estratégia e diálogo coeso podem custar à sobrevivência no espaço político, que vem exigindo renovação.
Os sintomas são visíveis. Na Câmara de Vereadores com maioria governista, a bancada de oposição vem fazendo uso de mecanismos já rejeitados pela maioria do eleitorado. É a mesma estratégia adotada pela oposição nos primeiros quatro anos de Daniel Cândido em São João Batista e que resultaram na reeleição de apenas dois vereadores. Um da oposição e outro da situação.
Tom zombeteiro, gritaria e falta de substância nas criticas, que são motivadas mais pela divergência partidária do que as políticas públicas, envenenam as bases. Nessa disputa, Moacir Montibeler, o prefeito, leva vantagem. Tem bom vocabulário, e retórica que convence. No legislativo, o modelo de oposição foi dado, com surpresa, por um vereador da base governista.
Discussão do projeto que retira o segundo professor das creches municipais e cria cargo de monitor, foi contrariado pelo vereador Fernando Souza (PRB). Foi ele o responsável em levar argumentos razoáveis para o debate, enquanto a oposição teimava em gritar impropérios políticos e sem embasamento técnico. Ironias e tom desconexo, que cobrarão um preço. Pode custar a credibilidade para debater temas relevantes para sociedade.
Com dificuldades em abandonar o palanque, opositores ao governo municipal vão deixando espaços, que em política são ocupados rapidamente, e terão dificuldades em se reorganizar. Falta liderança que centralize as discussões o que também motiva o descontrole. Acostumados a darem as cartas, aprovarem ou rejeitaram projetos e requerimentos com facilidade, vivem agora um dilema. Caso não se reorganizem, passarão pelo mesmo processo do PMDB, que demorou 12 anos para retomar o controle do município.
Para não ficarem as margens, a oposição canelinhense precisará de terapia. Entender o recado das urnas, analisar os números e medir o discurso. Sintetizar a realidade das ruas. O tom usado atualmente se assemelha, em grande medida, ao do candidato Eloir João Reis, o Lico, na campanha, e que não encontrou ouvidos. Foi derrotado. Outra demanda, da lógica política, é deixar a órbita do umbigo e ver o conjunto, sem se ater as raivas partidárias e orgulho ferido.
Na conjuntura de uma bancada que passou o processo eleitoral trincado, com divisões internas, não será fácil se recompor. Sem lideranças que assumam frente ao processo tendem a se esvaziar e se tornam mero ‘batedores de pé’. Falando de buraco nas ruas, reclamando do orçamento ou acusando o governo de qualquer coisa, sem apresentar alternativas palpáveis. Outro risco, percebido nesses primeiros meses, é que no descarrilar do debate para a gritaria, possam gerar descrédito para o legislativo.
Sem poder e sem rumo. Isso é reflexo da estrutura personalista dos partidos, que, comandados com mão de ferro por poucas ou uma única liderança, têm enorme dificuldade de se realinhar quando se tornam oposição. Após uma derrota de quem ficou a mercê deste ou daquele líder, o partido entra numa rota interna critica, não se organiza, fica sem estratégias definidas. Não assumem uma plataforma clara de atuação aos eleitores e não sabem o que falar hoje.
Na falta de programática e liderança, restará aos partidos de oposição se abraçarem no final e tentarem relançar seus líderes, Antônio da Silva ou Lico na próxima eleição, com resultado que poderá ser catastrófico. De mãos dadas podem afundar na falta de identidade e respaldo eleitoral. Neste momento os ventos são favoráveis aos governistas, e a constatação é que pode ser bem mais que um passageiro vento sul. Falta a oposição um discurso político que a legitime para fazer criticas a gestão emedebista. Até aqui, gritaria e palanque.
