Sem remédio para o desperdício. A saúde presa em uma maquete

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Assinatura na porta da prefeitura, na posse, foi de mentirinha. Dezenas de notas na imprensa sobre a construção do novo hospital para enganar o cidadão. E aquele projeto apresentado na Praça do Sapateiro, mostrando um prédio pomposo e que poderia ser regional? Estelionato e desperdício de dinheiro público. É marca da Administração, fazer alarde em projetos que dificilmente saem do papel. A captação dos recursos foi aprovada pela Câmara. Isso, no entanto, são paredes. Construção não saiu do papel e o atendimento ao cidadão debilitou.

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Imagem do projeto do novo Hospital divulgada pela Prefeitura.

Quando a palavra planejamento some da estrutura das Administrações Municipais, os serviços públicos básicos são os primeiros a sentirem os efeitos. Assim como no orçamento doméstico, as Prefeituras devem utilizar critérios claros e calculados para gastar o dinheiro captado do bolso do cidadão. Nem sempre acontece, e o prejuízo é pago no coletivo.

No domingo (04), Ademir Zschornak, vítima de um tiro disparado por criminoso que invadiu sua casa em um assalto, precisou de atendimento médico de urgência. Por volta das 14 horas o Hospital Monsenhor José Locks foi acionado. Não havia ambulância disponível. Os bombeiros se encarregaram do atendimento, mas foram orientados a não levar nenhum paciente para o Hospital de São João Batista, pois, não tinha médico no plantão.

Esse não é o primeiro caso. As falhas no atendimento de emergência se multiplicam, assim como a mudança de responsáveis pela unidade. De 2013 até aqui foram quatro diretores, e nenhuma solução aparente. As mesmas rotinas, os mesmos dramas, as velhas promessas e discursos de que um dia, quem sabe, será diferente. E poderia. Não fosse a falta de um planejamento estratégico e investimento no que é necessário.

Ademir foi levado para o Hospital de Canelinha, recebeu os primeiros atendimentos e foi transferido para uma unidade da Capital. Como ele, dezenas de batistenses vem buscando ajuda nas cidades vizinhas. O que funciona na propaganda oficial, foge a realidade das ruas. Afora os problemas do Monsenhor, outros pontos do sistema básico de saúde também pecam. Demora para marcação de exames, falta de medicamentos e atendimento que expõe o usuário a constrangimentos. Agora faltam recursos, a farmacinha está desabastecida. Antes sobrava.

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Imagem do projeto do novo Hospital divulgada pela Prefeitura.

E o governo municipal esbanjou. Gastou cerca de R$ 170 mil na elaboração do projeto para construção do prometido novo hospital. A maquete da estrutura foi apresentada ao público em dezembro de 2014. Os recursos para confecção do projeto vieram através do deputado Gelson Merísio. Não passou de estelionato eleitoral com recursos público. Meses depois Daniel Cândido decidiu não construir a estrutura, e jogou no lixo dinheiro que poderia ter sido investido no Monsenhor. Para posteridade ficarão as imagens gravadas em vídeo do prefeito assumindo a construção do Hospital para si e a sensação de que houve uma traição comunitária.

Fora as questões envolvendo promessas não cumpridas, são os recursos públicos que importam. Já em 2013, quando Cândido esteve na casa de Gelson Merísio pedindo recursos para o projeto, se sabia que dificilmente a estrutura sairia do papel. Não pelo custo da construção, mas pela manutenção que não poderia ser arcada pelo município. Posteriormente o próprio Merísio teria se posicionado contra a execução do projeto. As centenas de reais, gastos no material publicitário e no desenho arquitetônico, fizeram falta.

Bom lembrar que em 2013 a Câmara de Vereadores aprovou projeto de produtividade, que prometia ampliar em dois, o número de médicos no plantão. Pela lei elaborada por Cândido e sua equipe, os médicos receberiam por produção o que possibilitaria a atração de novos profissionais para o município. Se funcionou no discurso político, na prática o atendimento permaneceu da mesma forma. Há outros dilemas. Um aparelho de mamografia continua se deteriorando na garagem da prefeitura, enquanto a prefeitura gasta recursos encaminhando os exames para clinicas particulares.

Se dessa vez Ademir Zschornak conseguiu atendimento em Canelinha, na próxima a situação poderá ser mais delicada. O grande fluxo de pacientes de São João Batista para a terra das cerâmicas e também Nova Trento tem chamado atenção dos gestores das cidades vizinhas. Apesar de não poder negar atendimento de emergência, a ordem é restringir o recebimento de batistenses. Em Nova Trento, por exemplo, já é feita uma consulta prévia para verificar se efetivamente não tem médico no Monsenhor José Locks.

Falta de priorização no atendimento básico ao cidadão e no aproveitamento de recursos disponíveis, agravam a situação. Os problemas no sistema público não são exclusivos de São João Batista, é uma crise nacional, mas a parte local pode e deve ser feita. Gerido pelo próprio município o hospital e postos de saúde necessitam de um olhar atento e de recursos fartos. É possível conviver com algum buraco nas ruas, mas saúde não permite tempo. Dos últimos anos restaram as promessas através de Projeto de Plantão Médico, que foi mal sucedido, trocas sucessivas de diretores, discursos e um punhado de lágrimas de crocodilo colocando a culpa em qualquer coisa.

Com a própria titularidade da Secretaria de Saúde já tendo passado por quatro responsáveis diretos, fica difícil alterar o quadro atual. O dinheiro escoou pela torneira em projeto faraônico, em palavras que não resultaram em saúde. E não vão resultar. Melhoras só quando for percebido que é necessário e urgente, planejamento e foco no básico. O cidadão agradeceria. Olhemos para as fotos do futuro ex-novo hospital, para nos lembrar de quanto dinheiro é desperdiçado.

*Esse é um texto opinativo e seu conteúdo de responsabilidade do colunista.

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