Na tarde de sexta-feira, 26, ocorreu o ato oficial de entrega da obra de reforma e manutenção do prédio da Câmara de Vereadores de Tijucas. O imóvel, que precisou ser reformado devido a problemas estruturais, possui mais de cem anos e faz parte do patrimônio histórico do Município. Ao todo foram necessários dez meses de obras para dar conta dos 715 m2 que compõem o edifício, ao custo total de R$ 581 mil – recurso oriundo de economias da própria Câmara.
Construído em meados de 1915, o casarão pertenceu originalmente ao Coronel Miguel Leal Nunes. Sua arquitetura foi concebida em estilo português clássico, com cobertura em quatro águas, alvenaria de tijolos rebocada e caiada de branco, com janelas e portas contornadas em azul-escuro. Na execução da reforma, tanto a fachada quanto a pintura original do prédio foram mantidas, beleza que agora pode ser apreciada por quem passa pela Rua Coronel Büchelle.
A revitalização do prédio faz parte das metas da Mesa Diretora da Câmara. De acordo com o atual Presidente do Poder Legislativo, Vilson Natálio Silvino, a reforma só foi possível graças à união de todos os vereadores em torno do tema. “Quando traçamos esse objetivo, em 2019, recebemos apoio geral dos integrantes da Câmara. Havia um consenso entre todos os vereadores de que a reforma era imprescindível e inadiável, tanto para a manutenção das atividades do Legislativo quanto para a preservação histórica do prédio”, conta.
Responsável técnico pela fiscalização da obra, o arquiteto Fábio Coelho explica que todas as aberturas (janelas e portas) do edifício foram completamente revisadas, com atenção especial para os quadros das janelas envidraçadas, para que a padronização e a excelente qualidade nos acabamentos fossem mantidas. Além disso, as paredes externas foram niveladas com revestimento e impermeabilizadas.
No entanto, as melhorias não foram apenas externas. Entre os meses de setembro de 2019 a junho de 2020, a obra passou por diversas fases de execução. O serviço completo compreendeu reparos estruturais no prédio, como a reconstrução do esqueleto que dá suporte ao telhado, substituição completa do forro e das telhas, e substituição do assoalho de madeira por um contrapiso armado sobre aterro compactado. Além disso, todos os ambientes foram adaptados para receber pessoas portadoras de deficiência ou mobilidade reduzida.
Memória do prédio
O prédio ocupado atualmente pela Câmara de Vereadores foi construído em meados de 1915, durante a Primeira República (1889-1934), no governo do Presidente Venceslau Brás Pereira Gomes (1914-1918). Sua arquitetura, concebida em estilo português clássico, tem cobertura em quatro águas, típica de construções de maior porte – como edifícios públicos e mansões. A alvenaria é feita em tijolos, rebocada e caiada de branco, com aberturas contornadas em azul-escuro.
Inicialmente o imóvel pertenceu ao Coronel Miguel Leal Nunes, mas logo foi adquirido pelo governo estadual com o intuito de sediar as Escolas Reunidas de Tijucas. De acordo com os jornais da época, o prédio seria inaugurado oficialmente em maio de 1916, em solenidade presidida pelo então governador de Santa Catarina, Felipe Schimidt. Não se sabe ao certo se a cerimônia aconteceu, nem se o governador compareceu. O que se sabe de verdade é que em 1918 o prédio já recebia o nome de Grupo Escolar Cruz e Souza e contava com 420 alunos.
Criado a partir do agrupamento de diversas escolas isoladas, o Grupo Escolar representou a superação de um modelo de ensino baseado em classes multisseriadas, na qual alunos de diferentes idades e níveis educacionais eram coordenados por um único professor, geralmente em um prédio improvisado e de organização precária. Com a implementação do grupo escolar, novas práticas educativas foram adotadas, como a graduação do ensino em séries e o trabalho simultâneo do professor com todos os alunos.
A definição do patrono Cruz e Souza foi uma escolha das autoridades da época, que prestaram homenagem ao poeta catarinense nascido na antiga ilha de Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis), em 24 de novembro de 1861. João da Cruz e Sousa era filho de escravos; mas foi apadrinhado por uma família aristocrática que financiou seus estudos e, com a morte de seu protetor, abandonou os estudos para dar início à carreira de escritor.
Na década de 1930 o prédio sofreu uma reforma para abrigar um maior número de alunos. Foi também nesta época em que a parte de trás do prédio foi construída para abrigar os banheiros e o lugar onde as merendeiras preparavam o lanche das crianças. Era nos fundos da edificação onde as crianças encontravam um espaço aberto para brincar. Alguns anos depois esse espaço seria utilizado pela Junta de Serviço Militar para convocar os jovens tijuquenses para o alistamento obrigatório.
Os anos passaram, a legislação mudou e a nomenclatura “grupo escolar” cedeu espaço para os termos “escola” e, posteriormente, “colégio”. A partir de 1955, com a mudança do Colégio Cruz e Souza para a Praça Sebastião Caboto, o prédio foi ocupado pelo Fórum de Tijucas e por alguns cartórios – como o de registro civil. A permanência da primeira instância do Poder Judiciário no local se estendeu até 25 de janeiro de 1994, quando então começou a funcionar no local em que se encontra até hoje, na Rua Florianópolis, esquina com Atílio Campos Filho.
Com a saída do Fórum, o imóvel passou por nova reforma e foi inaugurado como sede da administração municipal em 13 de junho de 1995. Com o retorno da Prefeitura ao seu antigo prédio, em 1998 o edifício foi destinado à Biblioteca Pública Municipal e à Câmara Municipal. Mais tarde, a biblioteca acabou ganhando um espaço próprio, e o espaço foi destinado exclusivamente à Câmara de Vereadores. Em 2019 o prédio precisou ser novamente reformado devido a problemas estruturais, e hoje encontra-se inteiramente revitalizado.
Fotos: Rádio Vale/Divulgação